Historiografia
Africana
Conceito
A
historiografia africana é a história da história de África; a maneira como a história africana é
escrita e interpretada ao longo dos tempos. Ela visa analisar e avaliar as
várias fases pelas quais passou a investigação, o ensino e as formas de
abordagem da história de África.
Os primeiros trabalhos sobre a história da África são tão antigos quanto o
início da história escrita. Os historiadores do velho mundo mediterrânico e os
da civilização islâmica medieval tomaram como quadro de referência o conjunto
do mundo conhecido, que compreendia uma considerável porção da África.
Contexto histórico
É o ser social do Homem que determina a consciência e não o inverso. É a
partir dessa premissa que Marx constrói o sistema do materialismo histórico. O
materialismo histórico afirma que os processos económicos estão na base de toda
a evolução da Humanidade. Houve uma evolução nos modos de produção, desde as
comunidades primitivas até à sociedade socialista. A passagem de um modo de
produção para o outro deve-se à existência de um elemento dinâmico, a luta de
classes.
Evolução da
Historiografia Africana
Antiguidade
Entre
as civilizações da Antiguidade Oriental, desenvolveu-se em África a civilização
egípcia. Os egípcios desenvolveram nessa época a escrita hieroglífica,
que serviu para fixar o legado religioso que até então era transmitido
oralmente (cosmogonias e mitografias).
A África ao norte
do Sahara era parte integrante de duas civilizações e seu passado constituía um
dos centros de interesse dos historiadores, do mesmo modo que o passado da
Europa meridional ou o do Oriente Próximo.
As informações clássicas a respeito do mar Vermelho e do
oceano Índico têm um fundamento mais sólido, pois é certo que os mercadores
mediterrânicos, ou ao menos os alexandrinos, comerciavam nessas costas.
A Idade Média
Neste período, os escritores e viajantes escreveram pouco
sobre África. Somente há registos sobre o norte de África que teve contacto com
comerciantes fenícios, gregos e romanos.
Os autores árabes eram mais bem informados, uma vez que em
sua época a utilização do camelo pelos povos do Sahara havia facilitado o
estabelecimento de um comércio regular com a África ocidental e a instalação de
negociantes norte-africanos nas principais cidades do Sudão ocidental.
Noutras regiões do continente também se fizeram registos
escritos sobre os africanos, feitos por escritores árabes, como: Al-Masudi;
Al-Bakri; Al-Idrisi; Al-Umari; Ibn-Batuta e
Hassan Ibn
Muhamad Al-Hassan (Leão
de África) estes são de grande importância para a reconstrução da história da
África, em particular a do Sudão ocidental e central, durante o período
compreendido entre os séculos IX e XV.
Por outro lado, o comércio com a parte ocidental do oceano
Índico tinha se desenvolvido a tal ponto que um número considerável de
mercadores da Arábia e do Oriente Próximo se instalaram ao longo da costa
oriental da África.
Por mais úteis que sejam essas obras para os historiadores
modernos, pairam dúvidas de que possamos incluir algum desses autores ou de
seus predecessores clássicos entre os principais historiadores da África. O
essencial da contribuição de cada um deles consiste numa descrição das regiões
da África a partir das informações que puderam recolher na época em que a
evolução da historiografia da África escreveu.
Não existe nenhum estudo sistemático sobre as mudanças
ocorridas ao longo do tempo e que constituem o verdadeiro objectivo do
historiador. Aliás, tal descrição nem chega a ser realmente sincrónica, pois se
é verdade que uma parte das informações pode ser contemporânea, outras delas,
embora pudessem ainda ser consideradas verdadeiras na época em que o autor
vivia, muitas vezes poderiam ser provenientes de relatos mais antigos. Além
disso, essas obras apresentam o inconveniente de que, em geral, não há nenhum
meio de avaliar a autoridade da informação, de saber, por exemplo, se o autor a
obteve por sua observação pessoal ou a partir da observação directa de um
contemporâneo, ou se ele simplesmente relata rumores correntes na época ou a
opinião de autores antigos.
Do século XV até à actualidade
A partir do século XV, o continente africano, teve contactos
com todo o mundo, especialmente com os europeus, no contexto da Expansão
europeia e com o envio no séc. XIX, de expedições missionárias, cientificas e
militares que escreveram sobre África em quase todas áreas científicas, com
especial destaque para a Geografia e
exploração de recursos naturais. Os
missionários, ao contrário, sentiam -se obrigados a tentar alterar o que
encontravam e, nessas condições, um certo grau de conhecimento da história da
África poderia ser -lhes útil.
A costa da Guiné foi a primeira região da África tropical
descoberta pelos europeus; ela foi o tema de toda uma série de obras a partir
de 1460, aproximadamente (Cadamosto), até o início do século XVIII (Barbot e
Bosman). Uma boa parte desse material é de grande valor histórico, porque
fornece testemunhos directos e datados, graças aos quais podem -se situar
várias outras relações de carácter histórico.
Há também nessas obras abundante material histórico
(entendido como não -contemporâneo), sobretudo em Dapper (1688), que, ao
contrário da maioria dos demais autores, não era um observador directo, mas
apenas um compilador de relatos alheios. Porém, o objectivo essencial de todos
esses autores era mais descrever a situação contemporânea do que fazer
história.
A partir do século XVIII, parece que a África tropical
recebeu dos historiadores europeus a atenção que merecia. Era possível, por
exemplo, utilizar como fontes históricas os autores mais antigos, sobretudo os
descritivos – como Leão, o Africano, e Dapper, de maneira que as histórias e
geografias universais da época, como The Universal History, publicada na
Inglaterra entre 1736 e 1765, podiam consagrar um número apreciável de páginas
à África.
Devido aos problemas coloniais, a África não foi considerada
um espaço único e total, dai que até hoje é frequente dizer-se «África branca» -África do Norte ou Magreb, e «África Negra» - Sul do Sahara. Esta situação justifica o facto
de aparecer uma história regionalizada:
- História
de África Magrebina; História de África Ocidental; Central e Oriental e
África Meridional.
O crescimento do interesse dos europeus pela África havia
proporcionado aos africanos grande variedade de culturas escritas, que lhes
permitia exprimir seu interesse por sua própria história. Foi esse o caso
principalmente da África ocidental, onde o contacto com os europeus havia sido
mais longo e mais constante, e onde sobretudo nas regiões que se tornaram
colónias britânicas – uma demanda pela instrução europeia já existia desde o
início do século XIX.
Em 1948, aparecia a obra History of the Gold Coast de
W. E. F. Ward. No
mesmo ano, a Universidade de Londres criava o cargo de lecturer em História da
África na School of Oriental and African Studies, confiado ao Dr. Roland
Oliver.
É a partir dessa mesma data que a Grã -Bretanha empreende um
programa de desenvolvimento das universidades nos territórios que dela
dependiam: fundação de estabelecimentos universitários na Costa do Ouro e na
Nigéria; elevação do Gordon College de Cartum e do Makerere College de Kampala
à categoria de universidades. Nas colônias francesas e belgas, desenrolava -se
um processo semelhante. Em 1950 era criada a Escola Superior de Letras de Dacar
que, sete anos mais tarde, adquiriria o estatuto de universidade francesa.
Principais Etapas
Na 1ª etapa,
o Homem capta a realidade que circunda através dos órgãos sensoriais: visão,
olfacto, audição, gosto e tacto. O seu cérebro reproduz a realidade concreta
que o circunda e retém-na através da memória. A realidade concreta, uma vez
apreendida pelo cérebro, passa a fazer parte do conhecimento concreto ou
sensível.
Na 2ª
Etapa, o cérebro trabalha os conhecimentos já adquiridos, analisa-os,
relaciona-os. Selecciona-os, sistematiza-os e transforma-os em informações,
isto é, em noções gerais de carácter abstracto com os quais o nosso pensamento
opera para compreender a realidade – conhecimento abstracto.
Na 3ª
etapa, percepciona-se e representa-se o conhecimento. A percepção é a forma
superior do conhecimento sensorial. Reflecte o objecto na integridade sensorial
imediata, no conjunto dos seus aspectos e particularidades externas. A
representação é a reprodução de acontecimentos, agradáveis ou desagradáveis.
Principais Correntes
Corrente
Eurocentrista
É uma corrente marcadamente racista, pois defende a superioridade da raça
branca sobre a negra. Sustenta que os africanos não tinham história antes de
estabelecerem contactos com os europeus. Afirma que África não é uma parte
histórica do mundo.
Hegel (1770 -1831) definiu explicitamente essa posição em sua Filosofia da
História, que contém afirmações como as que seguem: “A África não é um
continente histórico; ela não demonstra nem mudança nem desenvolvimento”. Os
povos negros “são incapazes de se desenvolver e de receber uma educação. Eles
sempre foram tal como os vemos hoje”.
As coisas ficaram ainda mais difíceis para o estudo da história da África
após o aparecimento, nessa época e em particular na Alemanha, de uma nova
concepção sobre o trabalho do historiador, que passava a ser encarado mais como
uma actividade científica fundada sobre a análise rigorosa de fontes originais
do que como uma actividade ligada à literatura ou à filosofia.
Tal concepção foi exposta de forma muito precisa pelo professor A. P.
Newton, em 1923, numa conferência diante da Royal African Society de Londres,
sobre “A África e a pesquisa histórica”. Segundo ele, a África não
possuía “nenhuma história antes da chegada dos europeus. A história começa
quando o homem se põe a escrever”.
Os historiadores coloniais profissionais estavam, assim como os historiadores
profissionais em geral, apegados à concepção de que os povos africanos ao sul
do Sahara não possuíam uma história susceptível ou digna de ser estudada. Como
vimos, Newton considerava essa história como domínio exclusivo dos arqueólogos,
linguistas e antropólogos.
Nega assim, a possibilidade de os africanos terem contribuído para o
desenvolvimento da História Universal. O Eurocentrismo defende que somente com
as fontes escritas é que se faz a história.
Corrente Afrocentrica
Surge em reacção à corrente eurocêntrica. Critica radicalmente a
colonização, afirmando que influenciou negativamente a evolução histórica
africana. É uma corrente que valoriza excessivamente as realizações
africanas. Recusa influência que os outros povos exerceram sobre a história
de África. Para eles, a história é o que graças ao esforço exclusivo dos
africanos, sem concorrência de nenhum factor externo.
O afrocentrismo defende que se deve interpretar e estudar as culturas não
europeias, nomeadamente a africana, e os seus povos do ponto de vista de
sujeitos ou agentes e não como objectos ou destinatários. Estes não defendem
que o mundo seja interpretado sob uma única perspectiva cultural, como foi o
caso do eurocentrismo, mais que seja reconhecida a existência de uma cultura e
a sua avaliação em termo de pensamento e conhecimento através da sua própria
perspectiva, nesse caso, mais concretamente a cultura africana seja analisada,
por si, enquanto sujeito e não através de modelos culturais que por vezes não
só a entendem como a desprezam e desvalorizam.
Corrente progressista
É uma corrente que reconhece o valor das fontes escritas, mas recusa
aceitar que a história seja feita apenas com base em documentos escritos,
negando assim, ao eurocentrismo. Contrariamente ao eurocentrismo e ao
afrocentrismo, o progressismo não espelha complexo de superioridade nem de
inferioridade. Reivindica
Parafraseando Ki-zerbo (2010:3) O progressismo expandiu-se a partir
de meados do século XIX com historiadores como: Albert Adu Boahen,
Joseph Ki-Zerbo, Teólifo Obenga, e Roland Oliver.
Uma investigação histórica séria e não discriminatória tendo como chave a
combinação de várias base metodologias e fontes. Esta corrente depende a
importância das fontes orais para todo o conhecimento – tudo o que é escrito é
antes pensando e falado.
Principais defensores Samuel Johson (Serra Leoa);
- Carl
Christopher (Gana);
- Joseph
Ki-Zerbo (Burkina-Faso).
Papel dos Historiadores
Os seus escritores servem de fonte importante para a reconstrução da
História de África, com destaque para a África Ocidental, Norte do Sudão e
África Oriental. (Sbn Khaldun (1332-1395).
Historiador muçulmano que contribuiu para a historiografia através da sua
investigação cruzada em história, economia, demografia e geografia.
O Objecto da História
A história não tem outra alternativa senão seguir a tendência de especialização de qualquer disciplina científica. O
conhecimento de toda a realidade é epistemologicamente impossível, ainda que o esforço de conhecimento transversal, humanístico, de todas as partes da história, seja exigível a quem verdadeiramente
queira ter uma visão correcta do passado.
A História, portanto, deve segmentar-se, não apenas porque a perspectiva do
historiador esteja contaminada com subjectividade e ideologia, mas porque ele
deve optar, necessariamente, por um ponto de vista, do mesmo modo que um
cientista: se quiser observar o seu objecto, deve optar
por usar um telescópio ou um microscópio (ou, de forma menos grosseira, que tipo de lente irá aplicar).
Com o ponto de vista determina-se a selecção da parte da realidade histórica
que se toma como objecto, e que, sem dúvida, dará tanto a informação sobre o objecto
estudado como sobre as motivações de um historiador que o estuda. Essa visão
preferencial pode ser consciente ou inconsciente, assumida com maior ou menor
cinismo pelo historiador, e é diferente para cada época, para cada
nacionalidade, religião, classe social ou âmbito no qual o historiador pretenda situar-se.
Métodos da historiografia africana
Nos
últimos anos, a História de África caminhou a passos largos no lançamento de
novos métodos na tentativa de abarcar regiões que ainda não foram suficientes
investigadas. Assim, registam-se os progressos da História analítica (história
de campo que não depende apenas dos arquivos) para a história colonial e
pré-colonial (cuja documentação é rara). É sabido ainda que os arquivos
coloniais foram criados e mantidos por estrangeiros e, naturalmente, incorporam
os preconceitos dos seus autores, os seus sentimentos sobre si próprios, sobre
aqueles que governavam e sobre os seus papéis, o que pode resultar em desastre
científico se não se socorrer de outras fontes, como a informação oral.
Os
historiadores de África fizeram um trabalho pioneiro neste âmbito ao se
debruçarem sobre o período pré-colonial e colonial. Este trabalho conheceu duas
etapas principais:
·
a primeira que vai
desde 1890 a 1914: altura em que os administradores letrados ao serviço da
administração colonial começaram a preocupar-se em conservar as tradições orais
de relevância histórica;
·
a segunda etapa vai de
1914 até à década de 60: é a época das independências, onde começa a surgir uma
vaga de historiadores africanos que se interessam pelo estudo das fontes de
História africana, com mor destaque para a tradição oral, a linguística e a
arqueologia.
Fontes
Tipo de fonte |
Características |
Dificuldades |
Oral |
É
a principal fonte para a reconstituição do passado de África apoiando-se na
linguística (que faz o estudo comparativo das línguas) e na antropologia (que
faz o estudo da cultura das civilizações). |
Não
são fiáveis, são fracos em termos cronológico, mas também abunda nesta fonte
o esquecimento. Portanto, a morte deste possuidor de conhecimentos é uma
biblioteca perdida é uma informação difícil de recuperar. |
Escrita |
Recorrer
aos documentos escritos em Árabe encontrados no Egipto, Núbia e Etiópia.
|
São
raros, pois estes documentos estão mal distribuídos quer em regiões e épocas.
A mais parte deles estão escritos em Árabe e aparecem carregados de vários
interesses: Politico, económicos, Sociais, religiosos distorcendo o sentido
real da história de África não é colocada numa perspectiva científica. |
Arqueológica |
Recorre-se
as escavações arqueológicas e o seu uso deve-se a escassez da fonte escrita.
Usa-se a técnica do carbono 14 para datar as mesmas. |
Sofrem
mutações devido a erosão que acaba dificultando as escavações e interpretação.
|
0 Comentários